O dia amanheceu sem chuva! Quando descíamos do nosso quarto para o pequeno-almoço, já um grupo de franceses partia para o mesmo trilho que nós íamos fazer. Tínhamos um dia duro pela frente pois iríamos passar por três colos, dois acima dos 2900 metros, onde o ar já é bem rarefeito. Mas nada que nos tirásse o apetite para o pequeno-almoço! O trilho era muito estreitinho e "aéreo" (expressão normalmente utilizada caracterizar um trilho muito estreito e exposto, onde se escorregarmos vamos cair no infinito!). Conseguimos avistar o maciço do Grand e do Petit Combin: monumental! Ao longe avistámos os "chamois", que nós traduzimos para cabras-montesas. Passadas 2 horas atingímos o primeiro colo, o Col Termin (2648m). Num outro vale, já com muitas flores coloridas a embelezar o trilho vimos o lago de Louvie, com o seu azul turquesa quase irreal. Caminhávamos agora para atingir o Col de Louvie (2921m). Desse colo avistámos o Grand Desert, o um deserto de calhaus e blocos deixados por um glaciar em regressão (é sinal do aquecimento global...). Na travessia o grande deserto cruzámo-nos com um rio!! Foi preciso muita concentração e sangue-frio para o atravessar. Uma queda significava um banhinho numa água gelada... Mas lá conseguimos e iniciámos a subida para o ponto mais alto do trilho, os 2965 metros do Col de Plafleuri. Aqui cruzámo-nos com o grupo francês que tinha saído uma hora mais cedo do que nós. Era sinal que tinhámos imposto um bom ritmo! Apartir deste momento, tratava-se de uma questão de honra: os "tugas" tinham que chegar primeiro ao destino, à Cabane de Plafleuri. Na descida, o Artur foi a nossa lebre e depois eu e o Miguel desatámos a correr pela encosta abaixo, tentando evitar calhaus e buracos. Nos derradeiros metros eram uma subida com cerca 45º de inclinação e o guia dos franceses ainda tentou, num último esforço, aproximar-se. Mas não facilitámos e conquistámos a cabana! PORTUGAL! Não julguem que querer chegar primeiro foi uma criancice, queríamos garantir o melhor quarto para o nosso grupo e não uma camarata cheia de malta a ressonar! E conseguímos, ficámos com um quarto com o "triliche"! Comemorámos a vitória de Portugal com ice tea e cerveja! Antes do jantar, uma das francesas optou por um banho diferente. Em vez de pagar 5 francos e disfrutar de 3 minutos de água quente, decidiu lavar as suas partes íntimas nos lavatórios da única casa de banho do refúgio (que era unisexo)! Na boa, sem problemas ou complexos, lá estava ela: schlop, schlop, schlop... Diz quem viu que não foi bonito de se ver. Depois do jantar, fomos para o quarto e subi para o 2º andar no triliche, coloquei os tampões nos ouvidos e adormeci a pensar na grande vitória para o alpinismo português deste dia: a conquista da Cabane de Plafleuri!
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