sexta-feira, 22 de agosto de 2008

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Gerês: o que é nacional é bom!












Vá para fora cá dentro. Foi o que fizemos no passado fim-de-semana. Visitámos o Parque Nacional da Peneda-Gerês. O nosso quartel-general foi o parque de campismo da Cerdeira, em Campo do Gerês. Passem uns dias por lá, não se vão arrepender!





Equipa Papa-Tuga


OS 5 MAGNÍFICOS
Mais de 100 Km a pé...
Mais de 5000 metros de desnível acumulado...
Mais de 5 colos acima dos 2500 metros...
Grandes, grandes vitórias para o alpinismo Português!

RITA SÔ-SÔ: movida a ice-tea e Toblerone; gosta das alturas mas tem vertigens
MICHA-EL: o seu humor inglês é incomparável; um touro em altitude
TINUKI: uma máquina de guerra; foi uma das principais responsáveis das muitas vitórias para o alpinismo português
LOUISE: uma força de yak; tem seguramente genes sherpas
ARTHUR: o fotógrafo de serviço; sempre com uma anedota no bolso; (muitas destas fotografias são da sua autoria, obrigada Artur!)








Toble...fuel!

Descobrimos um combustível para chegar mais rápido, mais alto e mais forte.

TOBLERONE




O Toblerone, para além de ser um chocolate, é um dos símbolos da Suíça. Desde muito pequena que conheço bem este chocolate com amêndoas e nougat. Quando aos 5 anos parti o rádio e o cúbito direitos, o médico ortopedista recomendou que eu comesse chocolate (como fonte de cálcio) para que as fracturas consolidassem melhor. O médico era mesmo meu amigo!
Em 1908, Theodor Tobler e o primo Emil Baumman criaram o Toblerone com a sua forma característica. "Tobler era o nome da família e "rone" veio da palavra "torrone", que é nougat em italiano. Dizem que a forma triangular foi inspirado no Matterhorn. A verdade é que desde há várias décadas que o Matterhorn faz parte da embalagem do Toblerone. Já tinham reparado?!? Querem mais surpresas?! Reparem bem no Matterhorn, conseguem descobrir um outra imagem?
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Pois é, é um urso! O símbolo do cantão de Bern, onde nasceu o Toblerone!

D9: Aufwiedersehen!






















Acordámos bem cedo, antes das 6.00 para ver se o dia estava limpo. Queríamos ver o Matterhorn, e não nuvens. Como o dia nasceu solarengo, levantámo-nos, fizemos as malas e fomos tomar o pequeno-almoço. Apanhámos o comboio cremalheira até Gronergrat, aos 3039 metros. Na nossa carruagem viajava um cão São Bernardo, o Benny, com 110 kilos. O trabalho do Benny é posar para a fotografia com grupos de japoneses em frente ao Matterhorn. Para isso ele teve que ser treinado. O seu treinador é um português simpático que nos contou um pouco da sua vida por Zermatt. Chegámos a Gronergrat e a vista era fabulosa. Podíamos avistar mais de 20 montanhas com mais de 4000 metros! Depois descemos até Riffelberg, onde há um lago onde se pode ver o reflexo do Matterhorn na água: lindo. É fácil tirar fotos que se parecem com postais. A paisagem ajuda, é só disparar! Apanhámos o comboio de regresso à cidade, já com o Matterhorn escondido pelas nuvens.
A viagem até Genebra foi feito de comboio, num percurso muito bonito que passou pelo lago Léman. E assim chegou ao fim uma bela aventura!

D8: Passeando em Zermatt









Neste dia passeámos por Zermatt porque a chuva e as nuvens não convidavam a subir às alturas. Visitámos o Museu do Matterhorn onde pudemos conhecer a história de Zermatt e o ambiente que se vivia no século XIX, em plena época de conquista alpina. Parte da corda utilizada na primeira ascenção ao Matterhorn está em exposição. Já na descida, por causa da inexperiência de um dos elementos da cordada, houve uma queda e a corda não aguentou o peso de quatro dos homens (Charles Hudson, Lord Francis Douglas, Douglas Hadow e Michel Croz) que cairam centenas de metros para glaciar. Sobreviveram apenas Edward Whymper, Peter Taugwalder pai e filho. Um preço demasiado alto... Visitámos ainda o impressionante cemitério dos alpinistas, onde estão sepultados montanheiros de todas as nacionalidades que perderam a vida nas montanhas ao redor de Zermatt.
Toda cidade respira e transpira montanhismo!

D7: Enfim, Zermatt!






Neste dia tivemos um trilho muito variado passando por bosques, trilhos escavados na rocha, túneis. Cada vez estávamos mais perto de Zermatt, cada vez mais o Matterhorn se dava a conhecer. Glorioso! Almoçámos numa esplanada de refúgio, onde para além do habitual pão, comemos um prato típico "rotti". Consiste numa tortilha de batata frita em palito, com um ovo por cima e que vai ao forno. Delicioso, com tudo o que se come com fome! Finalmente começámos a descer para Zermatt. Sabe bem descer, mas se for horas a fio, começam a doer os joelhos e os pés, sobretudo quando se tem um grande peso às costas. Zermatt parecia nunca mais chegar... Ai, os últimos metros custam tanto! Entrámos na cidade por um zona nova, com muitos prédios a serem construídos. Não foi preciso esperar muito tempo para ouvirmos falar Português, com respectiva pontuação que lhe é tradicional: M***a, f***-se, etc, etc. Ah, estamos em casa!
Percorremos a ruas de Zermatt, onde só há bicicletas ou carros eléctricos. Chegámos ao nosso hotel, o Banhof Hotel, que é normalmente frequentado por alpinistas credenciados como nós. Ficámos bem no centro da cidade, junto a estação de comboio. Soube-me tão bem descalçar as botas e arejar os pés (já não posso falar pelos meus colegas de quarto!). Já depois de um banho tomado e roupa (semi) lavada, fomos jantar um restaurante italiano, muito frequentado por... portugueses! Para ajudar a digestão passeámos pela cidade e só se ouvia falar português. Homens, mulheres, crianças e bebés, com uma expressão claramente "tuga" que eu reconheceria no fim-do-mundo! Little Portugal, em Zermatt!

D6: Perto do céu, perto do inferno












O dia começou com uma grande subida por um bosque. Andámos até encontrar um trilho escavado na rocha. Já tínhamos sido avisado que este trilho era muito "aéreo" e por vezes perigoso, por haver troços muito expostos, sem com cabos ou cordas de protecção. A dificuldade do percurso era compensada pelas primeiras vistas do Matterhorn. Para mim foi difícil controlar as pernas e o medo. O trilho era muito estreito, escorregadio e por vezes a descer, onde é difícil controlar os movimentos com uma mochila de 12 kilos às costas. Foram duas horas de muitos nervos, sempre à espera que na próxima esquina o trilho melhorasse. Felizmente que não há mal que sempre dure, e o trilho melhorou... Tivemos ainda direito a passar numa ponte himalaia, cuja construção era de qualidade duvidosa e muito inferior aos modelos originais no Nepal. A meio da tarde chegámos ao Europahutte. Não tínhamos reserva para dormir devido à nossa alteração de planos. Mas disseram-nos que era possível dormir no chão da sala e por isso não ficámos preocupados. Ficámos na varanda do refúgio com vista para o Weisshorn a aproveitar ao sol, a beber ice tea e a comer bolo de maçã caseiro. "Heaven, I'm in heaven". Quando chegou a hora de jantar, ficámos na mesa com dois franceses muito estranhos. Um deles tinham um ar particularmente psicótico e olhava fixamente para os elementos femininos do nosso grupo. De tal forma que começou a ser desconfortável... Na mesa ao lado estava um grupo de italianos também com um ar um pouco estranho, com um vestuário um pouco incomum para estes ambientes de montanha. Um deles trajava com calções até ao pescoço, com um cinto enorme a dizer "CUBA", " CUBA", "CUBA"... e uma camisola parecida com a do Vitória de Setúbal. Hilariante, parecia o Mr. Bean das Montanhas! O ambiente era de tal forma estranho que chegámos a pensar que seria um encontro de internacional de doentes psiquiátricos... Depois do jantar o francês psyco não nos largava... Quando descobrimos que ele também ia dormir na sala connosco, começámos a rezar. À hora de deitar, a dono do refúgio teve o bom senso de colocar os franceses bem longe do resto das outras pessoas. O francês psyco deve ter tomado a medicação e lá nos deixou dormir a noite sossegados.

D5: Pelos vales suíços, de comboio


Em reunião de equipa, decidimos que gostámos de estar um dia inteiro em Zermatt e por isso teríamos que encurtar o trajecto feito a pé. Assim, decidimos ir até Grasenried de transportes públicos e ficar apenas a dois dias a pé de Zermatt. Num só dia, fizemos dois dias de trilho. Fomos de autocarro de Arolla até Les Hauderes e depois Sion. Em Sion apanhámos o comboio até Visp e depois trocámos de comboio até St. Niklaus, já no vale de Zermatt. Almoçámos nesta aldeia, onde ninguém parecia saber falar outra língua para além de alemão. Sprechen Sie Englisch? Franzosich? Muda o vale e muda a língua e os costumes. Assim é a Suíça. Para pedir o almoço para os nossos amigos vegetarianos tive que me esforçar e puxar pela memória das aulas de alemão, aos sábados de manhã, no Goethe Institut em Lissabon! Gemuse, Kartofeln, Brot... Fomos ainda ao supermercado abastecer-nos de mantimentos para os próximos dias. Conseguímos desencantar uma paderia em St Niklaus e comprar pães altamente nutritivos, com tudo incluído: cereais integrais, passas, nozes. Mas pesavam quase meio quilo cada um... Mas valeu a pena, pois revelaram altamente saborosos: estás perdoado Arturinho! Depois do almoço apanhámos mais dois autocarros que nos deixaram em Grasenried, à porta da Europaweg, um trilho que liga Grachen a Zermatt em dois dias.

D4: Caminhando numa moreia





Neste dia o trilho começou ao lado da enorme albufeira da barragem de Dix. Depois de nos cruzármos com um manada de vaquinhas e de contornámos toda a albufeira, começámos a subir. A meio da subida encontrámos pela primeira vez a edelweiss, uma flor muito especial que só cresce em pastagens alpinas. Em seguida entrámos numa moreia glaciar, um trilho muito duro e rochoso, onde contornámos blocos gigantes. Tínhamos agora que passar para um outro vale através de um colo. Tínhamos duas hipóteses: A) dois percursos de escadas verticais fixados à rocha, com uma altura de cerca 5 andares... Huuum, qual é a hipótese B?! Subida íngreme em terreno pedregoso e escorregadio... Bem, escolhemos a hipótese B. Durante a subida só olhava para o chão, para não me desconcentrar e não pensar em cair... Conquistámos o Colo de Riedmattem (2919m), que mais se podia chamar Colo Vertigo ou Hypoxia...
A descida foi penosa, porque os pés já estavam muito massacrados pelo terreno rochoso. Mas tudo foi compensado com a chegada a bonita aldeia de Arolla, onde comemos uma banana slip fresquinha! Depois de dois dias a sandes e comida de refúgio, soube bem ingerir centenas de calorias sob a forma de um gelado!

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

D3: Os três colos


























O dia amanheceu sem chuva! Quando descíamos do nosso quarto para o pequeno-almoço, já um grupo de franceses partia para o mesmo trilho que nós íamos fazer. Tínhamos um dia duro pela frente pois iríamos passar por três colos, dois acima dos 2900 metros, onde o ar já é bem rarefeito. Mas nada que nos tirásse o apetite para o pequeno-almoço! O trilho era muito estreitinho e "aéreo" (expressão normalmente utilizada caracterizar um trilho muito estreito e exposto, onde se escorregarmos vamos cair no infinito!). Conseguimos avistar o maciço do Grand e do Petit Combin: monumental! Ao longe avistámos os "chamois", que nós traduzimos para cabras-montesas. Passadas 2 horas atingímos o primeiro colo, o Col Termin (2648m). Num outro vale, já com muitas flores coloridas a embelezar o trilho vimos o lago de Louvie, com o seu azul turquesa quase irreal. Caminhávamos agora para atingir o Col de Louvie (2921m). Desse colo avistámos o Grand Desert, o um deserto de calhaus e blocos deixados por um glaciar em regressão (é sinal do aquecimento global...). Na travessia o grande deserto cruzámo-nos com um rio!! Foi preciso muita concentração e sangue-frio para o atravessar. Uma queda significava um banhinho numa água gelada... Mas lá conseguimos e iniciámos a subida para o ponto mais alto do trilho, os 2965 metros do Col de Plafleuri. Aqui cruzámo-nos com o grupo francês que tinha saído uma hora mais cedo do que nós. Era sinal que tinhámos imposto um bom ritmo! Apartir deste momento, tratava-se de uma questão de honra: os "tugas" tinham que chegar primeiro ao destino, à Cabane de Plafleuri. Na descida, o Artur foi a nossa lebre e depois eu e o Miguel desatámos a correr pela encosta abaixo, tentando evitar calhaus e buracos. Nos derradeiros metros eram uma subida com cerca 45º de inclinação e o guia dos franceses ainda tentou, num último esforço, aproximar-se. Mas não facilitámos e conquistámos a cabana! PORTUGAL! Não julguem que querer chegar primeiro foi uma criancice, queríamos garantir o melhor quarto para o nosso grupo e não uma camarata cheia de malta a ressonar! E conseguímos, ficámos com um quarto com o "triliche"! Comemorámos a vitória de Portugal com ice tea e cerveja! Antes do jantar, uma das francesas optou por um banho diferente. Em vez de pagar 5 francos e disfrutar de 3 minutos de água quente, decidiu lavar as suas partes íntimas nos lavatórios da única casa de banho do refúgio (que era unisexo)! Na boa, sem problemas ou complexos, lá estava ela: schlop, schlop, schlop... Diz quem viu que não foi bonito de se ver. Depois do jantar, fomos para o quarto e subi para o 2º andar no triliche, coloquei os tampões nos ouvidos e adormeci a pensar na grande vitória para o alpinismo português deste dia: a conquista da Cabane de Plafleuri!